Há um besouro incomodando-me e não consigo elucidar seu mistério. Por isso a necessidade de compartir, mesmo a contragosto (meu e seu, sei) o ruído ruim que as asas dele provocam.
Em primeiro momento pensei ser um besouro dialético. Levou-me a concluir que vivemos (não apenas você e eu, mas toda a humanidade, sabemos) sempre entre duas opções: falar e silenciar. Muitas vezes silenciamos quando falamos; assim como, silenciando, falamos. Você, o que ouve quando me ouve, seja na fala, seja no silenciar?
Não durou muito, passei a considerá-lo um besouro aristotélico, posto que é da natureza dele o zumbizar e nada mais se pode elucubrar. Entretanto, ele fez habitar em mim um sentimento drummoniano com suspiros de angústia enchendo o espaço.
Restou-me, pois, apenas uma clareza iniludível: tempo vivido. Portanto, o tempo passado? Coisa divina e ao mesmo tempo estarrecedora: somos finitos. O hoje não é como o ontem, e o amanhã é incerto. Mas Amado (o Jorge), há muito já alertava que era preciso viver ardentemente.
Pomos fim no mito que criaram em torno do século 21. Na verdade já estavam inseridos nos muitos conceitos e comportamentos pós-modernos desta última década que antecipou o milênio. Nada pode deter o tempo. Quando achamos que avançamos, foi ele que nos ultrapassou. Debruçemo-nos sobre esta reflexão.